Antigamente era reduzido o número de pessoas que possuiam máquinas fotográficas devido às despesas que isso acarretava: comprar o dispositivo, os rolos, mandar revelar e posteriormente imprimir.
Atualmente chovem fotografias por todo o lado.
Vejo turistas com os seus tablets e smartphones a disparar em todas as direções, estudantes a fotografar o seu estudo a toda hora, senhoras a eternizar as suas refeições, pedidos de casamento, férias nas Caraíbas, férias na China, trabalho comunitário, negócios fechados, festas de aniversário...
A imagem fotográfica dominou o nosso mundo de uma maneira avassaladora.
Pessoalmente gosto de fotografar com uma câmara fotográfica. Gosto de captar momentos que achei interessantes para mais tarde recordar, por isso tenho uma grande dificuldade em perceber como é que as pessoas se cingem a um dispositivo móvel para imortalizar os seus momentos. Então decidi fazer uma experiência.
Saí à rua e durante 1h apenas fotografei com o telemóvel.
Aqui fica o resultado.
É mais fácil fotografar com o telemóvel. Não só devido ao programa automático que faz as exposições visualmente mais agradáveis sozinho - mas isso também a máquina fotográfica faz - mas porque é mais leve, mais pequeno e mais maleável. Consegue chegar a espaços que a máquina, devido à sua dimensão não é capaz, permitindo assim diferentes pontos de vista.
É uma mini máquina fotográfica que nos acompanha diariamente, que permite fotografar 10x mais momentos do que se só usássemos uma máquina, visto que não andamos constantemente com ela.
Mas há uma coisa que me deixa estupefacta: pessoas a escolher telemóveis pelas suas câmaras. Repito: escolher telemóveis pelas suas câmaras. Não nego que eu própria tive em consideração a câmara quando comprei o meu telemóvel, mas isso foi uma entre imensas características. Para além de que, quando fotografamos com a máquina, não estamos a receber mensagens ao mesmo tempo, não nos telefonam a meio, não aparece nenhuma notificação em pop-up... Existe sempre o modo de vôo que evita estas destabilizações mas isso não será desvirtuar o telemóvel em si?
Acho que também é preciso frisar que com a luz forte do sol torna-se impossível ver qualquer imagem no ecrã, tal como no LCD da câmara mas esta tem sempre a alternativa do óculo.
Outra coisa que também achei desvantajosa é a pega pouco segura para o telemóvel. Há planos que não conseguimos fisicamente lá chegar, esticamo-nos todos, fazemos posições esquisitas e temos noção que ao mínimo descuido o aparelho pode cair. Se a máquina cair? Tem sempre a fita ao nosso pescoço ou enrolada no punho para segurança. Se o telemóvel cair?... Se calhar é melhor pensar numa fita antes de se ir fotografar.
As lentes deixaram de ser um problema desde que começaram a aparecer os primeiros aplicadores para os próprios dispositivos móveis mas os sensores continuam a ser muito pequenos o que restringe a fotografia profissional e limita o zoom.
Atualmente há máquinas que, com toda a evolução tecnológica, foram ultrapassadas pelos telemóveis mas é necessário realçar que, apesar do número de pixeis ser importante, não é isso que define uma boa fotografia.
Estamos perante um grande problema!
Deixou de se dar importância à lente, ao sensor, até mesmo à própria qualidade da fotografia. Apenas se quer captar o momento, seja bem ou mal.
Captar. Captar. Captar.
Acho que realmente tirar fotografias com o telemóvel é uma mais valia mas torna-se assustador perceber que o futuro vai ser assim. As máquinas estão cada vez a ser mais desprezadas pela população em geral e estamos a voltar ao início, onde quem tem as máquinas são os fotógrafos profissionais e os outros olham perplexos para aquele dispositivo como se eles mesmo não pudessem ter um.
Portanto lamentavelmente concluo que, com toda esta evolução, acabámos por ficar exatamente no mesmo lugar.
KAPPA