Muito mais complexo que "A Rapariga no Comboio".
Paula Hawkings conseguiu cativar-me no seu 1º livro com uma tática de escrita distinta das usuais. "A Rapariga no Comboio" é um policial repleto de mistérios, segredos e 'apagões' contado por 3 mulheres.
Neste 2º livro Hawkings joga com diversas personagens e os seus pontos de vista perante os acontecimentos. Inicialmente é complicado entrar numa leitura coerente devido às datas e aos diversos capítulos/pessoas. É um livro que exige ao leitor muita atenção o que fez com que me sentisse uma autêntica detetive.
As personagens estão muito bem desenvolvidas - o seu passado, as suas consequências no presente, etc... existindo um leque de intervenientes na história muito maior do que n'A Rapariga do Comboio". Destaco duas que me captaram mais a atenção: a Nickie - simpatizei de imediato com ela , não sei se por ter uma aura de mistério a envolvê-la ou simplesmente porque o nome é apelativo - e a Erin, apesar de ter passado metade do livro a pensar que ela era um homem - o meu subconsciente deve ter confundido Erin com Eric. No fundo todos têm os seus segredos e é disso que eu gostei da Erin, por ser uma rapariga tão simples, correta, trabalhadora e empenhada mas ter também ela um mistério por trás da fachada.
O tema do livro é intrigante, foca-se nas decisões que temos que tomar ao longo da vida e que nos encaminham para os mais diversos rumos.
O título "Into the Water" é cativante já que toda a ação acontece à volta do Poço das Afogadas porém, a tradução em português "Escrito na Água" faz muito mais sentido, apesar de não ser o título original. Para além de fazer uma analogia com o Poço das Afogadas expõe também a obsessão da Nel por escrever sobre esse local e por denunciar todas aquelas histórias de Beckford.
Após uns capítulos é impossível parar de ler o que é uma característica de louvar da escritora - ficamos famintos para saber mais e mais. Por outro lado torna-se assustador o modo como ela nos prende tão facilmente à história.
Gostei mais deste 2º livro talvez porque me senti mais envolvida com as personagens. Senti também um progresso a nível narrativo.
Assim sendo, aconselho vivamente a sua leitura.
Agora é aguardar pelo Poço das Afogadas no grande ecrã.
"Para todas as pessoas problemáticas."
O POÇO DAS AFOGADASLibby- Mais uma vez! Mais uma vez!
Os homens voltaram a amarrá-la. Agora, de uma maneira diferente: o polegar esquerdo ao dedo grande do pé direito, e o polegar direito ao esquerdo. A corda em torno da cintura. Desta feita, têm de a carregar água adentro.
- Por favor - começa ela a implorar, porque não sabe ao certo se consegue voltar a enfrentar aquilo, a escuridão e o frio.
Quer regressar a um lar que já não existe, a um tempo em que ela e a tia se sentavam diante da lareira e contavam histórias uma à outra. Quer estar na sua cama no chalé delas, quer voltar a ser pequena, inspirar o fumo da madeira e as rosas e o doce aconchego da pele da tia.
- Por favor.
Afunda-se. Quando a tiram de lá pela segunda vez, tem os lábios do azul de uma nódoa negra, e a sua respiração desapareceu para sempre.
PAULA HAWKINS