É com um aperto no coração que leio as notícias de uma nuvem de fumo que envolve Mangualde e eu, a 300km de casa, não posso fazer nada para além de esperar pelo sucesso dos bombeiros e por uma ajuda milagrosa do clima.
Saí de casa há uma semana. Estava calor como um dia de verão mas as folhas das videiras já começavam a ganhar o tom amarelado do outono. Saí de Mangualde com um céu limpo e um pôr do sol laranja forte que se despediu de mim com um breve 'até já'.
Mas o laranja forte transformou-se em chamas e a pacífica cidade de Mangualde num fósforo.
Leio relatos, notícias e notificações das labaredas a atingirem cada canto do concelho e visualizo o inferno com um detalhe assustador enquanto tomo consciência de que todas as memórias visuais da minha querida casa estão reduzidas a uma escala de cinzentos.
Hoje senti-me inútil. Incapaz de poder ajudar.
É nestes momentos que nos confrontamos com a aterrorizante realidade de que não conseguimos controlar tudo.
Somos demasiado pequenos.
Somos demasiado frágeis.