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Olá, sou o Alemão e sofro do síndrome de cão abandonado.

Olá,
   O meu nome é Alemão, pelo menos é assim que me chamam. Já tenho uns anitos - 5, 6, 7 talvez? - e vivi-os sempre com medo de dar uma passo em frente. Não sou esta ou aquela raça específica, sou "demasiado grande" como já ouvi comentarem e não sou o cão mais bonito do universo. Há um ano conheci a minha companheira de aventuras, eu estava miserável, com o pelo baço e aos tufos e as minhas costelas estavam tão expostas que parecia que iam saltar cá para fora. Já para não falar do meu olho azulinho que só vê enevoado... mas isso é uma história demasiado triste para ser contada.
   Voltando à minha companheira, ela passava os dias deitada à soleira da porta de uns humanos que mal conhecia, mas ela confiava neles! Inclusive deixava que lhe tocassem e em troca eles alimentavam-na. Mas eu não ia cair nesse engôdo. Não depois de todos aqueles anos cheios de berros e de pedradas. Eu não confio nem nunca confiarei em humanos, pensava eu.
   Ficava apenas a observar ao longe, a controlar a situação. Um ano passou e eles bem tentavam aproximar-se de mim, mas eu não lhes dava hipóteses. Até que desistiram e passaram só a dizer "Olá" de vez em quando, mas eu já nem lhes ligava. Não me faziam mal, eu não lhes fazia mal. Coexistíamos.
   Um dia, estava eu a ver um pássaro ao fundo da carreira quando me cai mesmo no nariz algo com um cheiro delicioso... era... era... era um bife?? A fome falou demasiado alto e só depois de o devorar é que levantei o olho para ver de onde é que aquela maravilha tinha caído, e ali estava ela: Alemão para aqui, Alemão para acolá, a sorrir. Dias depois, quando chegou do trabalho e disse o usual "Olá" eu não a ignorei, tinha que lhe agradecer de alguma forma, então abanei a cauda.
   Foi nessa altura que percebi que os humanos são como os cães, há uns maus e outros bons, há uns agressivos e outros amáveis e eu, finalmente, tinha encontrado uma família que gostava de mim.
   Agora durmo à soleira da porta sem medo que me enxotem, levanto-me e bebo água limpa que tenho à disposição, fazem-me festas e eu gosto. Sou um cão robusto, com um pelo brilhante e luzidio, mas o trauma está lá sempre. A fome e os movimentos bruscos assustam-me demasiado. Não quero reviver um passado tão cruel, e a vida ensinou-me a caminhar sempre pronto a dar um passo a trás e fugir e isso, por muitos mimos e amor que me dêem, vai sempre acompanhar-me.
Sou o Alemão e sobrevivi.

   Infelizmente o abandono de animais está cada vez mais presente no nosso dia a dia, mesmo com tantas campanhas contra esta prática.


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KAPPA